E os cuidadores informais, Jesus?
Estava
no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, à espera para fazer uma reportagem. Como
estava um frio de rachar, fugi para um cantinho da entrada das Consultas
Externas. Preparava-me para ler a revista, quando olho para uma senhora, que
devia ter 80 ou mais anos, que mal conseguia andar.
Fui
ter com ela e enquanto a ajudei a ir até aos elevadores, foi-me contando que
estava ali sozinha com o marido, também ele com certa idade. Estava a tentar
chegar ao pé dos elevadores, enquanto o marido arrumava o carro. Não tinham ali
mais ninguém.
A
senhora mal conseguia falar, mas fazia questão de sorrir e de contar a sua
história. Teve de parar várias vezes no caminho, porque tinha problemas de
coração e as próteses na coluna já não a ajudavam. Precisava mudá-las, mas
ninguém a operava por causa do coração.
Naquele
momento senti vontade de chorar por estarmos numa sociedade que abandona cada
vez mais os idosos, apesar de o envelhecimento da população ser uma realidade
bem vincada nos dias de hoje.
Não
sei o que se passa com a família dela, mas do muito tempo que passo em unidades
de saúde sei que há a possibilidade de esta senhora ter um filho ou uma filha
que até gostaria de estar ali a ajudá-la, mas não pode por correr risco de
perder o emprego.
É
verdade! Há casos de abandono, mas também existem outros deste tipo. Os
familiares querem ajudar, mas não podem estar sempre a tirar dias. E no meio
desta sociedade de redes sociais virtuais acabamos por viver muito sozinhos,
sem redes sociais…
Além
de tristeza, senti revolta ao pensar que nunca mais avança o Estatuto de Cuidador
Informal. Há dinheiro para tudo, menos para o que é mais importante. E assim
continuamos a ver muitos familiares a viver mal por serem obrigados a ficar sem
emprego para tomar conta de uma mãe, pai ou filho ou idosos ou pessoas muito
doentes que são obrigadas a ir sozinhas ao médico, mesmo que mal consigam
arrastar os pés…
Resta-me recorrer a
Ti, Jesus! Olha por todas estas pessoas. Dá-lhes força! Quanto aos decisores
que podem mudar esta realidade, tira-lhes as escamas dos olhos, para que possam
ser mais rápidos quando se trata de políticas sociais! Ámen.
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