quarta-feira, janeiro 09, 2019




E os cuidadores informais, Jesus?




Estava no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, à espera para fazer uma reportagem. Como estava um frio de rachar, fugi para um cantinho da entrada das Consultas Externas. Preparava-me para ler a revista, quando olho para uma senhora, que devia ter 80 ou mais anos, que mal conseguia andar.

Fui ter com ela e enquanto a ajudei a ir até aos elevadores, foi-me contando que estava ali sozinha com o marido, também ele com certa idade. Estava a tentar chegar ao pé dos elevadores, enquanto o marido arrumava o carro. Não tinham ali mais ninguém.

A senhora mal conseguia falar, mas fazia questão de sorrir e de contar a sua história. Teve de parar várias vezes no caminho, porque tinha problemas de coração e as próteses na coluna já não a ajudavam. Precisava mudá-las, mas ninguém a operava por causa do coração.

Naquele momento senti vontade de chorar por estarmos numa sociedade que abandona cada vez mais os idosos, apesar de o envelhecimento da população ser uma realidade bem vincada nos dias de hoje.

Não sei o que se passa com a família dela, mas do muito tempo que passo em unidades de saúde sei que há a possibilidade de esta senhora ter um filho ou uma filha que até gostaria de estar ali a ajudá-la, mas não pode por correr risco de perder o emprego.

É verdade! Há casos de abandono, mas também existem outros deste tipo. Os familiares querem ajudar, mas não podem estar sempre a tirar dias. E no meio desta sociedade de redes sociais virtuais acabamos por viver muito sozinhos, sem redes sociais…

Além de tristeza, senti revolta ao pensar que nunca mais avança o Estatuto de Cuidador Informal. Há dinheiro para tudo, menos para o que é mais importante. E assim continuamos a ver muitos familiares a viver mal por serem obrigados a ficar sem emprego para tomar conta de uma mãe, pai ou filho ou idosos ou pessoas muito doentes que são obrigadas a ir sozinhas ao médico, mesmo que mal consigam arrastar os pés…

Resta-me recorrer a Ti, Jesus! Olha por todas estas pessoas. Dá-lhes força! Quanto aos decisores que podem mudar esta realidade, tira-lhes as escamas dos olhos, para que possam ser mais rápidos quando se trata de políticas sociais! Ámen.  



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