segunda-feira, setembro 24, 2018


É possível perdoar a quem te destruiu a vida?





Ainda hoje peço todos os dias para o perdoar de todo o coração. Apesar de a minha mágoa estar mais calma, ainda há achas que precisam de ser apagadas no meu coração para evitar que o fogo se reacenda.

Falo de quem me tratou como uma princesa e de quem me tratou como um saco de boxe. Falo de quem me deu o mais precioso da minha vida: o meu filho. A pessoa que tanto me deu abraços como me deixou marcas de violência física e psicológica.

Desde o primeiro momento em que comecei a ser maltratada pedi a Deus para me ajudar a perdoar. Já lá vão mais de 4 anos e posso dizer que aprendi uma grande lição: perdoar é possível, mas tens de pedir essa graça a Jesus e, muito importante, preservar todos os dias nesta intenção. E consegue-se se falarmos abertamente com Jesus, sendo sinceros e dizendo o que sentimos … Mesmo que esses sentimentos não sejam os mais bonitos…

Aprendi ao longo deste tempo que o perdão vai além das palavras. Quando temos de continuar a contactar com a pessoa, os traumas dos maus-tratos falam muitas vezes mais alto e acabamos por ver que afinal ainda temos muito a perdoar.

Muitos se riem de Jesus por dizer “Amais os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” Mt 5, 43-44, mas Ele sabe que só assim somos mais felizes, que só assim podemos sentir a verdadeira liberdade de espírito. Quantas doenças, principalmente psicológicas, advêm de não aceitarmos este pedido de Jesus…

Por isso, partilho esta oração para que eu e tu possamos ter a humildade necessária para aceitar que Jesus arranque dos nossos corações todas as mágoas que nos impedem de amar quem mais nos magoou.

Jesus, sabes que ainda não perdoei de todo o coração. Eu quero fazê-lo e Tu sabes disso, mas também tens noção que as feridas ainda estão abertas e que enquanto não as sarar não irei conseguir perdoar de todo o coração. Por isso, peço-Te que arranques este coração tão humano – no pior sentido da palavra – e que me dês um novo. Que consiga ser livre no perdão. E não te esqueças de por a Tua mão sobre quem mais me magoou, porque como Tu disseste “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.”  Lc 23, 34 Amén



quinta-feira, setembro 06, 2018



Deus é … Amor ou os sapatos engraxados e impecáveis?




Manter os sapatos bem limpos, mesmo em dia de chuva, e correr para o autocarro é a principal lembrança de Bruno quando recorda os tempos em que estudava a Bíblia. Hoje em dia, já pai, diz não ter fé.

O Bruno foi educado como Testemunha de Jeová, mas para este post não interessa se se trata das Testemunhas de Jeová ou da Igreja Católica ou da Evangélica ou qualquer outra. O que quero realçar é a lembrança principal deste homem dos tempos em que ouvia a Palavra de Deus. Ele não se foca no amor e na misericórdia de Deus, mas naqueles momentos de stress.

E é aí precisamente que me questiono: Que imagem de Deus estou a passar ao meu filho? Daqui a uns anos qual será a resposta dele quando lhe falarem de Deus? Será que dou demasiada importância aos aspetos exteriores, deixando para trás a principal mensagem, que é o amor?

Não estou a censurar os pais do Bruno. Acredito que estavam a dar o seu melhor. Mas, de facto, desde que sou mãe que me questiono muitas vezes se estou a fazer o melhor para mostrar ao meu filho quem é realmente Jesus.

Tento não apenas levá-lo à Missa – e como é difícil. Procuro que ele fale com Jesus, agradecendo e contando o que mais o preocupa. Leio histórias da Bíblia para Crianças ao deitar, faço a oração com ele, acordamos com o sinal da cruz… Se damos um saco no Banco Alimentar, digo que, além disso, devemos pedir a Jesus para ajudar todas as pessoas…

Mas esta minha dúvida continua a assolar-me… Que imagem transmito ao meu filho? Será que estou a facilitar ou a impedir que Ele conheça o amor maravilhoso de Jesus?

Enquanto escrevo estas frases, sou obrigada a parar… Jesus como que sussurra, dizendo: “Faz isso e mostra-Me nas tuas obras. Sê cada vez mais santa e não te esqueças de pedir sempre o Espírito Santo.”

 Pois é, pai e mãe, o segredo está aí: Pedir o Espírito Santo, que nunca nos será negado (Lc 11, 13). Admito que iniciei este texto com amargura. Mas termino-o com a certeza absoluta de que, como Santa Mónica, as orações e as lágrimas de uma mãe – e de um pai, também – não passam despercebidas a Deus. Ele está a escutar-nos, mas claro que temos de fazer a nossa parte, dando o exemplo através das palavras mas, sobretudo, das obras de cada dia. Que o Espírito Santo nos purifique e nos ilumine neste caminho!