quinta-feira, outubro 23, 2025

 

Bendita dor de cabeça!

 


É quarta-feira, final de tarde. O dia foi longo e ainda falta tudo o resto para fazer em casa. Exausta, com dores de cabeça, stressada e angustiada, olho para as inúmeras pessoas que saem do Metro e penso: “Meu Deus! Se não fosses Tu, de que valeria toda esta correria?”

O amor de Deus transforma, de facto, a nossa vida e está sempre presente, mesmo quando não O sentimos. Ele deixou-nos essa promessa: “Estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.” (Mt 28, 20)

Aquela quarta-feira era mais um dia muito preenchido, com muito trabalho, muitas responsabilidades. O cansaço era tão grande que mal suportava o barulho à minha volta. Só me apetecia dormir ou ficar em silêncio total… Não podendo fazê-lo, agarrei-me a Jesus e pedi-lhe força.

Apesar das dores de cabeça e da confusão mental, Jesus abriu-me os olhos e fez-me ver que aquele momento era uma bênção. Como? As dores de cabeça foram o gatilho para não suportar o barulho; seguiu-se a sensação de que, sem Deus, nada daquela correria valeria a pena. Isto levou-me à oração, a bendizer Deus por dar sentido à nossa vida quotidiana, a orar por todas aquelas pessoas que estavam à minha volta…

As dores de cabeça passaram logo? Não! O cansaço (melhor dizer, exaustão) desapareceu no momento? Não! Mas ficou a gratidão por um Deus que nos ama infinitamente e que me ajudou a olhar para o meu próximo e a não me focar tanto nos meus sentimentos, nas minhas dores…

No final do dia, quando cheguei finalmente à cama, o amor de Deus reinava, apesar das dores…

Ensina-nos, Jesus, a louvar-Te em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, naqueles em que apenas nos apetece olhar para o nosso umbigo. Ámen.


sexta-feira, outubro 17, 2025

 

Amar é doação, espera, cuidado



A caminho do trabalho vi um senhor de idade avançada a levar a neta à escola. Deviam ir atrasados, pois tentavam apressar o passo. É uma cena corriqueira, mas lembrei-me como o amor é mesmo isto: doação. O amor que Deus nos ensina é mesmo este: implica dádiva, espírito de sacrífico, paciência.

Em 1Co 13, 1-13, fica muito claro o que é amar alguém: filhos, maridos/namorados, esposas/namoradas, pais, etc.


“O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento.”

Destaco, em particular, “o amor é paciente (…)  não procura o seu próprio interesse”. Quantas vezes perdemos grandes amores ou magoamos as pessoas, porque não conseguimos pensar mais no outro do que em nós. Na nossa impaciência e na vontade de sermos amados, acabamos por ficar cegos e não vemos as necessidades dos outros. Quantas vezes estão a sofrer mais do que nós… e não queremos saber, porque apenas pensamos em receber, receber…

Isto vê-se, sobretudo, nas relações conjugais e entre filhos e pais. A reciprocidade própria de uma relação a dois ou o vínculo de sangue não são razão para exigirmos tudo do outro. Se os amamos, somos pacientes, prestáveis, procuramos mais o interesse do outro do que o nosso. Isso pode implicar momentos de espera – às vezes, uma longa espera.

Mas se Deus nos diz que esta é a forma de amar, procuremos pedir-lhe essa graça de saber cuidar mais do outro, de olhar para o sofrimento do outro… Tenho a graça – sim, posso dizer que é uma graça – de Deus me moldar cada vez mais na espera. Porquê? Porque é na espera que aprendemos a amar como Deus nos ensina; é aí que purificamos os nossos sentimentos; é aí que percebemos os frutos do verdadeiro amor… E como tem sido descoberta maravilhosa!

Que Jesus nos ensine a amar como aquele avô amou a neta, naquela manhã!

 


 

domingo, outubro 05, 2025

 

Religião e Política. Ai, Jesus!

 


Estamos à beira de eleições e uma das questões que surge é: Religião e Política podem misturar-se de alguma maneira? Depende… Passo a explicar: o Estado português é laico (e não ateu, como muitos querem) e, obviamente aplica-se a máxima de Jesus “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 15). Na prática, é preciso haver respeito mútuo e a Igreja – católica ou outra – não deve dizer para se votar em X ou Y. Não pode fazer campanha política. Infelizmente, nem sempre nos portámos bem…

Contudo, esta máxima de Jesus não pode impedir o cristão de se esquecer de quem é: seguidor de Jesus. O seu voto tem de ser coerente com o Evangelho que escuta, medita e proclama. Nos últimos tempos, com a redes sociais, há muitos cristãos a seguirem movimentos partidários contrários ao Evangelho. É demasiado triste! Afinal, seguimos Jesus ou os nossos ideais políticos? O que é mais importante: Jesus ou um partido político? 

Não basta ser-se contra o aborto e a eutanásia. Isso é muito importante, obviamente! Ser de Cristo é ser pró-vida. Mas ser pró-vida é também estar contra, por exemplo, o uso de porte de armas por causa do mandamento “Não matarás”. É ser a favor da dignidade dos imigrantes, das pessoas de outras religiões, das pessoas mais vulneráveis, etc. Não sou eu que o digo, mas sim, o Evangelho:

“Não matarás!” (Ex 20, 13): “Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egipto” (Ex 22, 20)

 “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque  (…) era estrangeiro e recolheste-me” (Mt 25, 35)

Jesus deixou-nos o exemplo. “Não ofendais o Espírito Santo” (Ef 4, 30) por causa de partidos políticos. Nalguns casos, é mesmo vender a alma ao diabo…



 

quarta-feira, outubro 01, 2025

 

O impossível também acontece


“De tudo sou capaz naquele que me dá força” (Fl 4, 13) Esta passagem bíblica acompanhou-me, de forma particular, nos últimos tempos. Muitas vezes, orei com estas palavras, sem ver uma luz ao fundo do túnel. A escuridão vencia, aparentemente, levando-me a balbuciar: “Jesus, sabes o que te peço. Não vejo nada, sinto uma enorme angústia. Estou revoltada. Mas, também sei, que Tu sabes o que é melhor para cada um de nós. E sei que, mesmo sentindo, uma enorme fraqueza, Tu estás a fortalecer-me e a fortalecer quem precisa desta graça.”

À volta de mim, havia quem me dissesse: “É impossível.” A minha razão tentava convencer-me do mesmo, mas a minha fé dizia outra coisa: “Aos homens é impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19, 26)

Assim continuei a oração. Uns dias às apalpadelas, noutros em plena escuridão, em lágrimas. A espera é algo terrível, sobretudo quando há muito em jogo. Mas, no final, a pessoa obteve a graça de que tanto precisava. E antes do tempo que era suposto…

É verdade que Deus nos pode dar um “Não”, porque mesmo as coisas boas poderão não ser o melhor para nós. Contudo, não é isso que nos deve levar a cruzar os braços. A espera pode significar apenas uma coisa: Deus está a pôr-nos à prova. Em suma, Ele pergunta: ”Até que ponto, acreditas que Comigo tudo é possível, desde que seja da vontade do Pai?”

Não desistamos de orar uns pelos outros, porque a oração move montanhas!


sexta-feira, setembro 12, 2025

 

Não às migalhas de amor!

 


“… quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede” (Jo 4, 14), disse Jesus à mulher samaritana. Esta passagem da Bíblia levou-me durante dias a uma questão: Jesus, se Te conheço, por que razão, de vez em quando, ainda sinto tanta sede, tanta angústia, uma dor profunda no meu coração? Por que razão a água que me dás, não me sacia?

Num momento de oração, eis a resposta de Jesus: “Ainda estás muito agarrada a migalhas de amor por causa do teu passado.” Foi uma oração libertadora! A falta de amor na infância leva-nos, mesmo de forma inconsciente, a aceitar migalhas de amor. Seja de quem for… E porquê? Porque ainda não curámos a ferida e a dor da ausência de quem nunca devia ter abandonado o barco.

Encarar esta verdade é muito doloroso. Mas é assim que deve ser. Na graça de Deus, em oração, é preciso aceitar a nossa verdade e deixar que Deus nos cure. Na maioria das vezes, essa cura não acontece em segundos. Deus pode muito bem curar-nos num clique, mas, regra geral, Ele prefere aos poucos, porque é dessa forma que nos vamos enchendo do Seu Amor, para o levar a outros.

Não podemos viver apenas de migalhas de amor. Não podemos ser mendigos em busca de um pequeno gesto que nos enche a alma e o coração, por breves momentos. Deus veio para nos dar vida e vida em abundância (Jo 10, 10) e, enquanto a vida nos dá migalhas de amor, Ele, Jesus, único Deus e Salvador, enche-nos com a plenitude do Amor. A angústia pode voltar, mas a solução é só uma: em oração é preciso pedir que Jesus nos cure e nos encha do Seu Amor, para O levarmos a tantos outros irmãos que estão num sofrimento sem fim…


sábado, agosto 30, 2025

 

Alegria em Deus até na prisão

 

“Alegrai-vos sempre no Senhor!”. (Fl 4, 4) “Não vos inquieteis com nada!” (Fl 4, 6) Estas palavras são de Paulo, na Carta aos Filipenses, e foram escritas quando ele estava na prisão, aguardando para saber se seria condenado à morte.

É brutal! No meio do sofrimento e da injustiça – era inocente -, Paulo tem um amor tão grande por Jesus e está tão cheio do Espírito Santo que não consegue deixar de falar em alegria.

Ele consegue, inclusive, compreender o lado bom daquela situação: “… o que me aconteceu ajudou o Evangelho a progredir” (Fl 1, 12). 

Naquele martírio fez questão de ajudar os seus irmãos a serem cada vez mais de Cristo e a continuarem a sua missão, apesar das perseguições. Ele podia ter optado por falar dos horrores que deveria estar a passar, murmurando e perguntando: “Porquê eu, meu Deus? Onde estás, Deus? Estou a seguir-Te, por que tens de me tratar assim?”

Ao reler esta carta maravilhosa, senti necessidade de orar e de pedir a Deus que me ajude a reler a minha vida à luz da Sua Palavra. Sei que sou imperfeita e que não vou conseguir fazê-lo sempre. Mas, peço-Lhe que me ajude e que me dê a firmeza de treinar esta forma de estar na vida. 

Jesus, sede o nosso amparo, envia o Espírito Santo para que o exemplo de Paulo não caia em saco roto na nossa vida! Ámen.


terça-feira, agosto 19, 2025

 

Deixa Deus sonhar em Ti

 


E se não acreditarmos que é possível ser-se feliz neste mundo? Parece ridículo, mas isto acontece, sobretudo quando se teve uma vida madrasta, plena de dor e de angústia desde a infância. 

Desde pequeninos habituamo-nos à ideia de que a vida é mesmo assim. Não há nada a fazer. E, com esta atitude, acabamos por desistir dos sonhos que Deus tem para nós. Chegamos ao ponto de nem sequer vermos o que Ele tem para nós. O sofrimento da vida cega-nos.

Mas os sonhos de Deus têm de ser cumpridos. E Ele não desiste de nos dar vida e vida em abundância (Jo 10, 10), nem que para isso tenha de nos desmontar o puzzle da vida em segundos…

Quando ele se destrói, tudo parece um caos. Ficamos confusos, à deriva… mas com uma ordem bem clara de Deus: tens de remar o barco, sob a ação do Espírito Santo, mesmo não sabendo como vais concretizar estes sonhos…

Foi isto que aconteceu a Abraão, o nosso pai na fé. Ele e a mulher, Sara, habituaram-se à ideia de que não iriam ser pais. Mas, contra tudo o que se previa, já numa idade avançada, Sara deu à luz um filho. O mesmo aconteceu com Ana, que teve Samuel, ou com Isabel que trouxe ao mundo João Baptista. Tiveram um caminho difícil demais, tempestades que os assustaram, mas o sonho era de Deus e Ele providenciou...

E tu? E eu? Que sonhos Deus quer realizar, mesmo que, humanamente, já pareçam impossíveis? Será que já nos habituámos demasiado ao fracasso e, com isso, impedimos que Deus realize os Seus sonhos em nós? 

PS: O título é de uma música do Frei Gilson