sexta-feira, novembro 21, 2025

 

O deus do ginásio

 



Praticar exercício físico adequado é essencial para a saúde. Mas existe um problema: o ginásio (ou até o exercício ao ar livre) tornou-se um deus para muitas pessoas. Há sempre tempo para o exercício, para moldar o corpo, mas nunca há tempo para a família, amigos, namorado (a), etc.

Eu também faço ginásio e natação e, como referi, isso é essencial para uma boa saúde. O problema está quando se tornam ídolos. Assisto e conheço histórias bem reais de quem ‘adore’ o deus ginásio/exercício, procurando viver o pleno bem-estar como se fosse um deus. E nem sequer têm noção de que é assim: acham que não estão a fazer nada de mal.

É preciso parar e ver até que ponto este novo deus nos está a afetar… Porquê? Porque, quando se tomar plena consciência desse deus, vai-se sentir uma dor enorme: a dor do vazio, das oportunidades de vida e das pessoas maravilhosas que se foram perdendo…

O telemóvel e todos os ecrãs podem ser deuses, mas a esses atribuiu-se-lhes facilmente um malefício. Ao ginásio, não. Na vida tudo deve ser com conta peso e medida. “Ninguém poderá servir a dois senhores…” (Mt 6, 24), já Jesus nos alertava…

Meditemos nos deuses da nossa vida e, com a graça de Deus, afastemo-los. E vejamos se, por acaso, esses deuses não estão simplesmente a esconder dores e medos interiores, que não conseguimos enfrentar…

Ajudai-nos, Jesus, a descobrir os deuses da nossa vida, sobretudo aqueles que passam facilmente por ser uma coisa boa, ou que até o são – como ir ao ginásio -, mas que em exagero nos afastam do Teu amor e do amor ao próximo! Ou, então, escondem medos e falta de coragem para dar certos passos… Ámen.



quinta-feira, novembro 13, 2025

 

A tua vida é muito importante!

 


A angústia pode ser tão profunda e intensa, que não há forma de a expressar por palavras. A depressão não se vê como uma perna partida, mas dói muito mais do que se possa pensar. Tu, que estás, farto de viver, tens em Jesus Alguém que sabe bem o que sentes. Jesus também sentiu angústia no Horto das Oliveiras. Chegou a suar gotas de sangue por causa do pânico e da angústia que sentia ao ver o sacrifício da cruz a aproximar-se (Lc 22, 44) …

Ele não te censura. Sabe bem o que tens sofrido e vivido. Mesmo sem O sentires, Ele está sempre contigo e diz-te: “Tu és muito importante. Não vês nenhuma saída, mas ela existe. Amo-Te muito, tal como és!”

No mês de novembro, o Papa dedica a sua intenção de oração às “pessoas que se debatem com pensamentos suicidas”, para que “encontrem apoio” nas suas comunidades e “se abram à beleza da vida”.

“Senhor Jesus, Tu que convidas os cansados e oprimidos a virem a Ti e a descansarem no Teu Coração, pedimos-Te neste mês por todas as pessoas que vivem na escuridão e no desespero, especialmente por aquelas que lutam contra pensamentos suicidas. Que sempre encontrem uma comunidade que as acolha, escute e acompanhe. Concede-nos um coração atento e compassivo, capaz de oferecer conforto e apoio, bem como a ajuda profissional necessária.” Papa Leão XIV

A todos os outros, peço compaixão por esta dor que leva a querer pôr fim à vida. Há dores que não se veem, que não se entendem. Mas existem, são bem reais. Deixemos o preconceito de que a depressão é uma mania da outra pessoa. Não é mania nenhuma, mas uma doença, que pode ser controlada. Oremos mais, critiquemos menos!

 

Linha nacional de prevenção do suicídio: 1411. É gratuito e funciona 24 horas por dia.

sexta-feira, novembro 07, 2025

 

Só Deus nos ama de verdade…

 


São palavras de uma mulher, já madura, que teve sempre uma vida de sofrimento. Desde cedo descobriu como a vida pode ser muito dura: violência, doenças graves, abandono, pobreza. Mas quando nos diz que “Só Deus nos ama de verdade”, não o faz com queixume ou com mágoa. Mas com alívio…

Nas suas palavras de pessoa cheia de fé, de muita oração, explica-nos que o ser humano tem muita tendência para se apegar demasiado ao amor e à aprovação dos outros, sobretudo quando faltou amor na infância. Mas quando se descobre (e se aceita) que apenas Deus nos pode amar por completo - por ser o Amor Perfeito – é mais fácil aceitar o amor imperfeito dos outros.

Não se trata de resignação, de parar de lutar, mas de aceitar a verdade nua  e crua: todos podemos amar, mas não o conseguimos fazer plenamente. Somos imperfeitos, deixamo-nos contaminar pelas feridas do passado…

É duro até se descobrir isto. Mais duro é moldar o nosso coração a esta verdade: “Ninguém te ama como Eu [Jesus]!” Resta-nos o consolo de um Deus que tem imensa paciência e que nos acolhe, com Amor infinito, todos os dias da vida, quer naqueles em que aceitamos esta verdade, quer naqueles onde não é bem assim…

Aceitar e viver esta verdade é um alívio, segundo esta mulher: “Assim, sofremos menos, compreendemos melhor as limitações do outro e vivemos mais tempo a amar o outro do que a criticá-lo. É por isso que é um alívio saber que apenas Deus nos ama de verdade, em toda a plenitude do Amor.”

Que assim saibamos viver, meu Deus!

 

 

 

quinta-feira, outubro 30, 2025

 

Falar de Deus e respeitar as feridas do outro


 

Há muitas pessoas com sede de Deus, mas também é verdade que muitas delas estão magoadas por causa de maus exemplos na Igreja. É preciso respeitar essa ferida. Jesus não apagava a mecha que ainda fumegava (Cfr. Is 42, 3) e nós temos de fazer o mesmo. Por vezes, ávidos de divulgar a Palavra, acabamos por sufocá-la. É preciso respeitar o tempo do outro, perceber quais as suas feridas e dúvidas; e sempre sem censurar.

Só Deus sabe por que razão alguns nunca saíram da Igreja e outros a abandonaram. Pode haver muitas razões e, muitas vezes, a culpa está no nosso (mau) exemplo. Antes de atirarmos qualquer pedra, olhemos para nós, Igreja. O que fizemos para que o outro se tenha afastado? 

Após essa reflexão, com a ajuda do Espírito Santo, tenhamos a coragem e a humildade de pedir perdão, de mudar comportamentos e de orar por aqueles que se afastaram. Como Jesus disse: “…os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos” (Mt 20, 16).

Peçamos também, em oração, a graça de não abandonar (ou voltar a abandonar) Deus e a Igreja. Ámen.



 

quinta-feira, outubro 23, 2025

 

Bendita dor de cabeça!

 


É quarta-feira, final de tarde. O dia foi longo e ainda falta tudo o resto para fazer em casa. Exausta, com dores de cabeça, stressada e angustiada, olho para as inúmeras pessoas que saem do Metro e penso: “Meu Deus! Se não fosses Tu, de que valeria toda esta correria?”

O amor de Deus transforma, de facto, a nossa vida e está sempre presente, mesmo quando não O sentimos. Ele deixou-nos essa promessa: “Estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.” (Mt 28, 20)

Aquela quarta-feira era mais um dia muito preenchido, com muito trabalho, muitas responsabilidades. O cansaço era tão grande que mal suportava o barulho à minha volta. Só me apetecia dormir ou ficar em silêncio total… Não podendo fazê-lo, agarrei-me a Jesus e pedi-lhe força.

Apesar das dores de cabeça e da confusão mental, Jesus abriu-me os olhos e fez-me ver que aquele momento era uma bênção. Como? As dores de cabeça foram o gatilho para não suportar o barulho; seguiu-se a sensação de que, sem Deus, nada daquela correria valeria a pena. Isto levou-me à oração, a bendizer Deus por dar sentido à nossa vida quotidiana, a orar por todas aquelas pessoas que estavam à minha volta…

As dores de cabeça passaram logo? Não! O cansaço (melhor dizer, exaustão) desapareceu no momento? Não! Mas ficou a gratidão por um Deus que nos ama infinitamente e que me ajudou a olhar para o meu próximo e a não me focar tanto nos meus sentimentos, nas minhas dores…

No final do dia, quando cheguei finalmente à cama, o amor de Deus reinava, apesar das dores…

Ensina-nos, Jesus, a louvar-Te em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, naqueles em que apenas nos apetece olhar para o nosso umbigo. Ámen.


sexta-feira, outubro 17, 2025

 

Amar é doação, espera, cuidado



A caminho do trabalho vi um senhor de idade avançada a levar a neta à escola. Deviam ir atrasados, pois tentavam apressar o passo. É uma cena corriqueira, mas lembrei-me como o amor é mesmo isto: doação. O amor que Deus nos ensina é mesmo este: implica dádiva, espírito de sacrífico, paciência.

Em 1Co 13, 1-13, fica muito claro o que é amar alguém: filhos, maridos/namorados, esposas/namoradas, pais, etc.


“O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento.”

Destaco, em particular, “o amor é paciente (…)  não procura o seu próprio interesse”. Quantas vezes perdemos grandes amores ou magoamos as pessoas, porque não conseguimos pensar mais no outro do que em nós. Na nossa impaciência e na vontade de sermos amados, acabamos por ficar cegos e não vemos as necessidades dos outros. Quantas vezes estão a sofrer mais do que nós… e não queremos saber, porque apenas pensamos em receber, receber…

Isto vê-se, sobretudo, nas relações conjugais e entre filhos e pais. A reciprocidade própria de uma relação a dois ou o vínculo de sangue não são razão para exigirmos tudo do outro. Se os amamos, somos pacientes, prestáveis, procuramos mais o interesse do outro do que o nosso. Isso pode implicar momentos de espera – às vezes, uma longa espera.

Mas se Deus nos diz que esta é a forma de amar, procuremos pedir-lhe essa graça de saber cuidar mais do outro, de olhar para o sofrimento do outro… Tenho a graça – sim, posso dizer que é uma graça – de Deus me moldar cada vez mais na espera. Porquê? Porque é na espera que aprendemos a amar como Deus nos ensina; é aí que purificamos os nossos sentimentos; é aí que percebemos os frutos do verdadeiro amor… E como tem sido descoberta maravilhosa!

Que Jesus nos ensine a amar como aquele avô amou a neta, naquela manhã!

 


 

domingo, outubro 05, 2025

 

Religião e Política. Ai, Jesus!

 


Estamos à beira de eleições e uma das questões que surge é: Religião e Política podem misturar-se de alguma maneira? Depende… Passo a explicar: o Estado português é laico (e não ateu, como muitos querem) e, obviamente aplica-se a máxima de Jesus “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 15). Na prática, é preciso haver respeito mútuo e a Igreja – católica ou outra – não deve dizer para se votar em X ou Y. Não pode fazer campanha política. Infelizmente, nem sempre nos portámos bem…

Contudo, esta máxima de Jesus não pode impedir o cristão de se esquecer de quem é: seguidor de Jesus. O seu voto tem de ser coerente com o Evangelho que escuta, medita e proclama. Nos últimos tempos, com a redes sociais, há muitos cristãos a seguirem movimentos partidários contrários ao Evangelho. É demasiado triste! Afinal, seguimos Jesus ou os nossos ideais políticos? O que é mais importante: Jesus ou um partido político? 

Não basta ser-se contra o aborto e a eutanásia. Isso é muito importante, obviamente! Ser de Cristo é ser pró-vida. Mas ser pró-vida é também estar contra, por exemplo, o uso de porte de armas por causa do mandamento “Não matarás”. É ser a favor da dignidade dos imigrantes, das pessoas de outras religiões, das pessoas mais vulneráveis, etc. Não sou eu que o digo, mas sim, o Evangelho:

“Não matarás!” (Ex 20, 13): “Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egipto” (Ex 22, 20)

 “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque  (…) era estrangeiro e recolheste-me” (Mt 25, 35)

Jesus deixou-nos o exemplo. “Não ofendais o Espírito Santo” (Ef 4, 30) por causa de partidos políticos. Nalguns casos, é mesmo vender a alma ao diabo…