Salvar vidas no silêncio
Às
vezes, na vida passamos por grandes sustos. As coisas podem estar bem – até muito
bem – e, de repente, tudo se desmorona. As certezas tornam-se incertezas, a
alegria vira tristeza e angústia e ficamos sem chão.
Acredito que foi isto que sentiu José quando soube da gravidez de Maria (Cfr. Mt 1, 18-25). Se fosse outro homem, tê-la-ia difamado, não se importando com a sua morte por lapidação. As mulheres adúlteras (apenas elas) eram apedrejadas, em praça pública, até à morte.
Naquele
momento, José não quis saber da sua dor, do sonho desfeito de quem achava que
iria casar. Simplesmente, sendo um homem de Deus, protegeu-a da morte. Esta
atitude acabou por lhe dar a graça de escutar o anjo de Deus a dizer-lhe para
não ter medo, porque o fruto do ventre de Maria era obra do Espírito Santo. Não
havia cometido adultério.
Reparem que José, mesmo na mágoa intensa, não deixou de escutar a voz de Deus… Nos momentos de dor, qual é a nossa tendência? Não escutamos ninguém, quanto mais Deus…
Podem dizer-me: isso é tudo muito bonito na teoria, mas na prática é diferente. Eu sei! Também sou fraca, resmungona nas dificuldades, também tenho a tendência de divulgar o que o outro me fez, para que a minha imagem não fique manchada…
Mas, nos últimos tempos, tenho aprendido (com algumas dores) que não é preciso gritar e ir a correr contar o que o outro fez. É melhor esperar como José. Ficar em silêncio e orar, mesmo que se chore e se tenha vontade de berrar.
Nesses momentos, dou por mim a olhar para o problema de forma muito fria e concreta, sem desculpas. E, perante a verdade do outro, consigo perceber melhor até que ponto o erro é cometido por traumas e por falta de cura interior. Não se trata de apagar o que aconteceu ou de achar que tudo se justifica, mas de reler os factos com base no amor e no perdão.
Consigo sempre fazer isto? Não. Mas faço-o mais vezes, desde que olho para Jesus no Sacrário em silêncio ou quando oro apenas em silêncio no meu quarto. No silêncio, tal como José nos ensina, Deus enche-nos do Seu Espírito. Sem o Espírito Santo vamos cair muito mais vezes na tentação de abrir a boca, independentemente de o outro correr riscos de morrer física e ou psicologicamente…
Afinal,
quem nunca pecou, que atire a primeira pedra… (Jo 8, 7)

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