quarta-feira, novembro 26, 2025

 

Quando somos um mundo fechado

 



Quando lidamos com muitas pessoas ao longo da vida, apercebemo-nos de como há tantos que vivem fechados no seu mundo. Até podem sorrir por fora, mas por dentro há algo que dói. E isso só é possível de entender quando estamos atentos, quando nos aproximamos sem julgamentos e permitimos que a pessoa fale.

A vida levou-as a viverem caladas e  a esconderem os sentimentos. Isso poderá acontecer por diversas razões: não conseguem expressar as emoções que foram sempre reprimidas; por acreditarem que se o fizeram vão ser gozadas ou consideradas fracas; ou simplesmente por quererem ‘tapar os pobres’ de quem lhes é mais próximo.

Estas dores revelam-se também em sorrisos ou palavras mais amargas, em desconfiança de tudo e de todos… Ainda, ontem, no autocarro me apercebi disso numa senhora. O seu tom amargo e crítico, assim como a sua expressão facial, demonstravam o quanto deve ser uma pessoa fechada no seu mundo. Com isto vem o ódio e o rancor e muitas amizades que desaparecem. 

Este episódio faz-me lembrar um projeto que existe na Chéquia com o teólogo e padre Tomáš Halík. O objetivo é apenas um: há padres e leigos disponíveis para escutar quem queira ser ouvido, sem julgamentos. Todos eles têm formação para tal. Num país onde há mais ateus do que crentes, esta iniciativa tem permitido que as pessoas possam desabafar, esclarecer dúvidas. Algumas até (re) descobrem que Deus é Amor e Misericórdia e não apenas uma ideia ou um tirano. 

Esta também deve ser uma das missões dos cristãos: escutar palavras, gestos, olhares. Que Deus nos dê quem possa ter vocação e formação para a escuta ativa, para o discernimento dos espíritos. Há muitos mundos fechados, sedentos de compreensão, amor e orientação…



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