Até que ponto investimos na vida para que alguém peça a eutanásia?
Numa
entrevista que fiz há uns dias, o entrevistado contava-me que tomou
conhecimento de um caso de um doente, num país nórdico, que, após mudança de
terapêutica deixou de pedir a eutanásia. Isto deveria interpelar-nos. Esta
pessoa apenas precisou mudar a medicação para ver que podia morrer
naturalmente, sem sofrimento. Sim, felizmente, já há forma de a pessoa morrer
sem ter um sofrimento atroz. Basta para isso ter acesso a Cuidados Paliativos e
a profissionais de saúde capacitados para o ajudar.
Outra
história bem real. O cientista David Goodall pediu para morrer aos 104 anos,
porque sentia as suas capacidades a deteriorem-se e já não aguentava mais
ver-se assim. Quando li a notícia lembrei-me de imediato de uma coisa: Quando
uma pessoa mais nova diz que não aguenta a vida que tem, costuma-se procurar
ajuda psiquiátrica, porque as suas palavras demonstram que está com uma
depressão. Isso aconteceu no caso do David Goodall? Não. Será que foi por ser
velho e um "fardo"?
Admito
que tenho muito receio de uma lei da eutanásia. Não se trata apenas de ser
cristã católica e acreditar que Deus é quem decide quando devemos partir. Há
uma questão que vai além de qualquer crença: o facilitismo com que este tipo de
leis poderá levar ao “descarte” dos mais velhos e dos “menos capacitados”. Sinto
que estamos a voltar aos tempos em que as crianças com deficiência eram mortas
à nascença…
Volto
a frisar, há maneira de morrer com dignidade e com menos sofrimento, se se
tiver acesso a Cuidados Paliativos. Não estou a defender – fique bem claro – a distanásia,
ou seja, o prolongamento da terapêutica quando já não faz sentido.
Perante
tudo isto há uma questão que também não consigo deixar de fazer aos políticos e
a cada um de nós, a mim, a ti, a todos. Quantas vezes lutámos pelos Cuidados
Paliativos e por medidas de apoio aos mais fragilizados, para que não pedissem
para morrer? Quantas vezes dedicámos o nosso tempo para que a pessoa ao nosso
lado se sentisse amada no sofrimento?
Pessoalmente,
admito, não o fiz as vezes necessárias… Se calhar todos somos culpados, de
alguma forma, por se estar a discutir esta lei …
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