sexta-feira, fevereiro 28, 2020


Não ficar pelos gestos exteriores nesta Quaresma …





Oração, jejum (ou abstinência face à situação de saúde de cada um) e esmola são os 3 pilares da Quaresma. Mas não esqueçamos de os acompanhar com atos de amor e misericórdia. Meditemos a Palavra de Deus:

«Todos os dias Me procuram e desejam conhecer os meus caminhos, como se fosse um povo que pratica a justiça, sem nunca ter abandonado a lei do seu Deus. Pedem-Me sentenças justas, querem que Deus esteja perto de si e exclamam: "De que nos serve jejuar, se não Vos importais com isso? De que nos serve fazer penitência, se não prestais atenção?"

Porque, nos dias de jejum, correis para os vossos negócios e oprimis todos os vossos servos. Jejuais, sim, mas no meio de contendas e discussões, e dando punhadas sem piedade. Não são jejuns como os que fazeis agora que farão ouvir no alto a vossa voz.

Será este o jejum que Me agrada no dia em que o homem se mortifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza: é a isto que chamais jejum e dia agradável ao Senhor? O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante?

Então a tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor.
Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: "Estou aqui"». Is 58, 2-9



segunda-feira, fevereiro 24, 2020


A vontade de Deus não tem de ser a minha ... mesmo que seja algo bom!





“Faça-se em mim segundo a Sua Palavra.” (Lc 1, 38) Esta passagem bíblica há muito que me toca profundamente. Este sábado estive em Fátima, no encontro do P.e Petar Ljubicic – quem vai divulgar os 10 segredos dadospela nossa Mãe em Medjugorje – e voltaram a ressoar ainda mais forte dentro de mim. 


O padre testemunhou como a vida de algumas pessoas em grande sofrimento físico e psicológico – inclusive casos de cancro – mudaram a partir do momento que pediram a graça de conseguir viver segundo estas palavras da Mãe: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua Palavra.”


Isto leva-me a um certo dia, há uns anos, quando não aceitava bem a dor por que passava naquele momento. Estava num retiro de cura interior do Aliança da Misercórdia e lutava contra essa dor... O retiro aconteceu num espaço verde e, enquanto caminhava no jardim, vi uma pedra grande, onde estava escrito: “Mas faça-se a Minha vontade.” Lembro-me que estremeci, porque percebi que aquela mensagem era mais que nunca para mim... 


Os anos passaram e, teimosa, forcei a minha vontade. Afinal, era uma coisa boa: constituir família. O problema é que nem estava a ir pelo caminho certo, nem estava sequer a esperar pelo tempo certo. Claro, as coisas não correram como deviam, porque era a minha vontade e não a de Deus. Voltei a derramar muitas lágrimas e, num momento de forte agonia e desespero, corri para uma igreja para poder desabafar. Aí estava a decorrer um encontro do Canção Nova e o tema era: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua Palavra.”


A partir daí percebi que não podia lutar mais com Deus. Tinha de aceitar a Sua Vontade, porque Ele sabe realmente o que é melhor para nós. Desde então tenho pedido muito para que seja a vontade de Deus que comande a minha vida. Ainda estou a treinar, dou várias quedas, mas a verdade é que tenho sido muito mais feliz e os momentos de dor – que são inevitáveis – são encarados de outra maneira.


O que estou a aprender com esta experiência é que é preciso estar atento áquilo que Deus quer para nós, porque as nossas emoções, experiências, mágoas mal curadas podem levar-nos a optar por um caminho que, apesar de ser bom, não é aquele em que Deus mais precisa de nós. Não é aquele que realmente nos vai trazer a felicidade...





sábado, fevereiro 15, 2020


Ainda a propósito da eutanásia ... e da perda de consciência do valor da vida







Há uns tempos entrevistei uma ginecologista, que é responsável por uma consulta de adolescentes num hospital público e o que me disse deixou-me em choque e muito preocupada. Esta médica contou-me que há menos casos de gravidez na adolescência nas estatísticas por causa da despenalização do aborto. Pior: o stress pós-traumático pós-aborto não era habitual nestas jovens, porque, quer elas como as mães, viam no aborto a solução do problema...



Chegou-se a este ponto. Já não se tem noção do erro. Antes da despenalização já havia quem abortasse sem sentir culpa, vendo no aborto a solução do problema. Conheci e ouvi situações dessas... Mas a maioria das mulheres sentia culpa e muitas, com ajuda psicológica e espiritual, acabavam por pedir perdão a Deus e tornar-se exemplo do que não deve acontecer. Mas, atualmente, estamos a viver uma era em que a vida perdeu total valor...



Estamos a poucos dias de a eutanásia ser discutida e até aprovada no Parlamento. Os que estão a favor continuam a dizer que os pró-vida são uns exagerados ao achar que vamos começar a descartar a vida dos mais frágeis. Mas não diziam o mesmo os movimentos pró-aborto? Veja-se o exemplo de outros países, onde a legalização da eutanásia já tem alguns anos: até crianças são elegíveis... Anorexia e depressão major – doenças muito graves – são elegíveis, apesar de haver solução, mesmo nos casos mais complexos... Quando se discutia a eutanásia, os que eram a favor garantiam que isto jamais iria acontecer e que era tudo um exagero dos movimentos pró-vida... Pelo vistos, quem estava a favor da vida não era exagerado...



Tudo isto é assustador! Erros graves podem ser cometidos por qualquer um de nós... “Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra.” (Jo 8, 7) Mas quando não temos noção do erro e da sua gravidade dificilmente vamos conseguir pedir perdão...



 

quarta-feira, fevereiro 12, 2020



Prometer para não cumprir? Aprendamos com estes meninos da catequese






Um tem 6 anos, o outro, 7 anos. São crianças cheias de energia, com dificuldade em ficarem quietos na Missa, apesar do interesse que mostram pelas coisas de Deus no encontro de catequese. Durante a Missa mal pararam e, no final, tive de falar com eles.

Depois de os chamar à atenção, perguntei-lhes, pedindo que olhassem para Jesus e Maria: “Vão prometer a Jesus e a Maria que se vão portar melhor na próxima vez?” A (não) resposta não podia ter sido melhor: não abriram a boca, olhando apenas para mim com um ar de “não vamos conseguir, por isso não podemos prometer”.

Naquele momento sorri interiormente e agradeci a Deus pela lição destas duas crianças: não se pode prometer o que sabemos que provavelmente não vamos cumprir. Nem sequer temos o direito de levar os outros a fazer promessas falsas e hipócritas. Olhando com ternura para eles, disse-lhes: “Vamos pedir então para que Jesus e Maria vos ajudem a portarem-se melhor.”


“Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu.” (Mt 18, 3-4) A Palavra de Deus é bem clara: temos de ser puros como crianças, falar com Jesus de forma clara, aceitando as nossas limitações – por piores que sejam -, pedindo-Lhe a graça de nos ajudar a ser melhor. Mas tudo isto sem promessas falsas e hipócritas, que apenas servem para acalmar a nossa consciência por uns tempos. 


sexta-feira, fevereiro 07, 2020


 Que a busca da cura do corpo e da mente não nos feche às graças de Deus!




Cura. Esta é a razão pela qual cada vez mais se procura Deus. Eu própria me integro nesse grupo. Cheguei a ficar obcecada, querendo forçar Deus a dar-me o que Ele sabia que não seria o melhor para mim. E ao fim de uns anos, bastante melhor mas não totalmente bem, dou graças a Deus por não me ter curado logo. Porquê? Acima de tudo, pelo que aprendi (ainda aprendo): a buscar Deus por amor e não por mera necessidade, a unir-me às Suas 5 Chagas (celebradas hoje), a compreender melhor os que sofrem, a louvar e a amar a Deus apesar dos momentos de agonia e das lágrimas, a ajudar outros que também sofrem…

Louvado sejas meu Deus por não me teres dado logo a cura! Acreditem que jamais imaginei escrever isto, porque os momentos de agonia são muito duros… Tenho percebido (e o que ainda não percebo, meu Deus?!) que a principal cura é daquilo que nos afasta de Deus, porque o nosso fim não é a morte mas a Vida Eterna.

A busca da cura é legítima e vê-se isso nos Evangelhos, quando Jesus cura tantas pessoas. Enviou inclusive os Seus discípulos para curar, mas também, para anunciar a Boa Nova. Além disso, há problemas de saúde que se devem pura e simplesmente à falta de perdão ou a caminhos que tomámos um dia e que não queremos deixar. Ora sem mudança, nada pode ser feito…

Também pode acontecer como a S. Paulo, que pediu 3 vezes para que Deus lhe tirasse o espinho da carne e a resposta que recebeu foi: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.” 2 Co 12, 9 Deus pode querer manter-nos o espinho da doença, porque sabe que é a melhor forma de nos salvarmos e de ajudarmos os outros. Lembro-me de Nino Baglieri, que se espera poder ser beatificado, que ficou paralisado do pescoço para baixo e que, após alguns anos, foi curado … não da paralisia mas da falta de aceitação das suas limitações. Desde esse momento agarrou-se à vida e falou de Deus como jamais o imaginara.

Com a minha experiência queria apenas deixar algumas ideias. Quando estamos doentes procuramos, de forma obcecada, os mais variados padres, encontros, orações, novenas… Não tem mal, obviamente, desde que não se caia na tentação – como aconteceu comigo – de achar que apenas aquele padre ou aquela oração me pode dar a cura … Quem cura – e apenas se for para a nossa salvação – é Jesus! Mais ninguém! O padre é um “instrumento” de Deus, a quem devemos procurar, mas lembrando sempre que é Jesus que nos salva e que a salvação também depende da nossa fé e da nossa conversão (que é diária, até ao dia da nossa morte neste mundo).

Se calhar estão a questionar-se: Mas assim devo deixar de lutar pela cura? Não! No meu caso pedi – e anda peço todos os dias – a graça para aceitar o que não posso mudar, a graça para me converter e me santificar e a graça para que os meus sofrimentos completem os de Cristo e ajudem a salvar os meus irmãos e irmãs em Cristo. Não é fácil, mas é maravilhoso ver que, como Santa Maria Madalena, posso dizer, mesmo no sofrimento: “Eu vi o Senhor!”.